O que é Dark Tourism?

O que é Dark Tourism?

10 de Abril, 2024 0 Por Patricia Diniz

Dark Tourism, Turismo Dark, Turismo de Terror ou Turismo Mórbido, todos esses termos são um tipo de turismo que ocorre em lugares que são conhecidos como assombrados, macabros, ou onde ocorreram desastres, naturais ou não, associados ao sofrimento e morte. Lugares esses que adquiriram um valor histórico decorrente desses acontecimentos, atraindo um tipo específico de turista. 

O Dark Tourism teve estudos acadêmicos bem mais recentes comparado a outros segmentos, mas alguns autores defendem que é uma das mais antigas formas de fazer turismo. O conceito foi forjado pelos professores britânicos John Lennon e Malcolm Foley, em 1996. Lennon escreveu o seguinte em um artigo ao jornal britânico The Guardian: “Desde a época do obscurantismo, os peregrinos viajavam para visitar tumbas e lugares de martírio religioso. A batalha de Waterloo foi observada pela nobreza a uma distância segura e um dos primeiros campos de batalha durante a Guerra Civil dos Estados Unidos foi ‘vendido’ no dia seguinte como um local de atração para os visitantes”. 

Complementando as palavras de Lennon, uma das frases mais famosas do escritor norte-americano H.P. Lovecraft, referência no gênero de terror, diz o seguinte: “A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido.” Essa frase impactante me faz lembrar desse segmento do turismo e a pensar sobre a motivação do turista ao praticá-lo, motivação que não necessariamente provém do medo ou apenas dele, mas também do valor histórico decorrente de acontecimentos trágicos ocorridos ali.

O imaginário está interligado ao “olhar do turista” através da subjetividade do que esse sujeito já vivenciou, imaginou, sofreu, experienciou, assim determinando os temas que chamam mais sua atenção. É nessa perspectiva que o Dark Tourism se enquadra, como uma possibilidade que se opõe às motivações mais convencionais da demanda turística. Esse imaginário é despertado de diversas maneiras, uma delas é através de produções audiovisuais: o caso de uma série da Netflix chamada “Turismo Macabro”, onde o jornalista David Farrier visita alguns locais com temática macabra pelo mundo. “American Horror Story: Hotel”, também da Netflix, é mais um exemplo de produção voltada para a temática do terror: série inspirada no Cecil Hotel, onde ao menos 16 pessoas morreram em condições brutais. O hotel reabriu as portas para visitantes em dezembro de 2021.

O imaginário é uma força que impulsiona indivíduos ou grupos, conduzindo ao consumo. Está presente desde a idealização da viagem, possibilitando fantasiar a realidade que se deseja conhecer e a busca do conhecimento sobre o local e o que ali ocorreu. Gastal e Castrogiovanni (2003) afirmam que “não viajamos para conhecer os lugares, mas para confirmar o imaginário que temos dele”. 

Os professores Foley e Lennon afirmam também que as pessoas são movidas pelo desejo de experimentar a realidade além da visão que se tem através da mídia. Peter Hohenhaus, um experiente turista desse segmento que visitou quase 700 locais em 90 países, conta ao The Why Factor, da BBC, que “quando visitamos esses lugares não nos lembramos dos outros, nós nos lembramos de nós mesmos, é por isso que temos os memoriais. Nesse sentido, o turismo mórbido nos guia através da morte dos outros em direção às nossas próprias vidas”.

TIPOS DE DARK TOURISM

É importante considerarmos os principais subtemas para especificarmos melhor as ramificações desse segmento diferenciado e que ainda causa certo estranhamento: 

  • Fábricas de Diversão: experiências fundamentadas em histórias fictícias ou fenômenos sobrenaturais, com viés fantasioso. Um exemplo é o castelo do Conde Drácula, na Transilvânia.
  • Genocídio: quando ocorre turismo em locais onde houve extermínio parcial ou total de um grupo étnico, comunidade, grupo religioso, etc. O complexo de campos de concentração de Auschwitz, na Polônia, é o exemplo mais famoso.
  • Turismo Cemiterial: ocorre com a intenção de explorar o patrimônio artístico e arquitetônico de cemitérios. Além da exploração, acontece também pela busca de personalidades famosas que se encontram nesses cemitérios.
  • Turismo de Guerra: visitação em locais onde aconteceram conflitos, revoltas, protestos, ou mesmo que ainda está acontecendo, como no caso da Ucrânia e Israel. 

Aproveitando esse último subtema, uma curiosidade sobre a empresa hoteleira Accor que tem nove estabelecimentos operando entre Kiev e Lviv, na Ucrânia, com reservas abertas: o hotel Leopolis, em Lviv, seguiu com sua atividade sem interrupções desde o início do conflito no país. “Faço o que faço porque ajudo a preencher a lacuna entre o que lemos na imprensa e a realidade local”, diz Rowan Beard a Revista Veja. Ele é gerente na Young Pioneer Tours, agência especializada em destinos pouco convencionais, como Coreia do Norte, Afeganistão e Síria. 

PRINCIPAIS DESTINOS DE DARK TOURISM

Campos do genocídio em Camboja, o memorial do genocídio em Ruanda, a Praça Dealey em Dallas, onde o presidente americano John F. Kennedy foi assassinado, o Edifício Dakota, onde o músico John Lennon foi morto, e o memorial Marco Zero, ambos em Nova York. O campo de concentração, o memorial e o museu de Auschwitz, o Cemitério Père-Lachaise em Paris e o Cemitério da Recoleta em Buenos Aires. Além desses, alguns outros locais que oferecem potencial risco aos turistas, como Chernobyl, Fukushima e Nagasaki, locais que estão em conflitos ativos, como no caso de Israel, por exemplo, e vários outros países. 

No Brasil também temos alguns locais de visitação que se destacam nesse segmento, como os cemitérios São João Batista, no Rio de Janeiro e o da Consolação, em São Paulo. No de São Paulo o turista ainda pode fazer o city tour “São Paulo Além dos Túmulos”, que conta a história de São Paulo sob uma perspectiva diferente. No estado de Minas Gerais, na cidade Barbacena, há outro exemplo bastante interessante: por cerca de cerca de 80 anos durante o século XX, esteve em atividade o Hospital da Colônia, um hospital psiquiátrico que mantinha seus pacientes de maneira desumana, resultando em mais de 60 mil mortes na época. Atualmente, há o Museu da Loucura no local, que conta a história do Hospital e faz um paralelo com os tratamentos psiquiátricos de hoje em dia. Este vídeo conta a história sobre o local, de uma maneira breve e leve: Clique Aqui.

E você, já praticou ou se interessa por Dark Tourism? Espero que o texto traga um maior entendimento sobre esse segmento. Ficam as dicas de lugares dentro e fora do Brasil caso queira praticar! 

 

 

Referências: 

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GASTAL, S.; CASTROGIOVANNI, A. Turismo na pós-modernidade (des)inquietações. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003: [6]

Imagens: 

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Author: Patrícia Diniz

Eu sou a Patrícia! Recentemente formada em Gestão de Turismo pela Universidade Federal de Santa Maria e consultora de intercâmbios em Santa Maria, RS. Sou alguém que deseja que o Turismo seja valorizado e respeitado, que deseja que o Turismo chegue a cada pessoa desse mundo, independente de sua faixa etária, sua condição econômica e social. Quero que o Turismo não seja visto somente como lazer, mas como uma oportunidade!