Relato de intercâmbio em Turismo em La Plata – Argentina
Quando ouvimos falar sobre intercâmbio, a primeira coisa que vem a cabeça é intercâmbio nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, não é mesmo? Quando entramos na academia, percebemos, para nossa felicidade, que as possibilidades de experiências, aprendizado e interação cultural são inúmeras, não somente para esses destinos. Mas para diversos lugares, tanto mais distantes, quanto mais próximos do Brasil – geográfica e culturalmente. A opção que vamos abordar aqui é para intercâmbio em La Plata.
Eu tentei fazer intercâmbio para o México uma vez: tinha o passaporte na minha mochila e antes que pudesse renová-lo, fui assaltada na cidade em que estava morando no Brasil; ou seja, tive que emitir outro, não tive tempo suficiente para planejar meus custos de permanência por um semestre em Guadalajara e a pessoa que eu conhecia que lá morava estava prestes a voltar. Não deu. Era melhor tentar através de algum outro programa – ainda para um intercâmbio na graduação.
Intercâmbio em La Plata na graduação – mobilidade acadêmica
Sempre gostei muito do Uruguai e resolvi tentar para lá, para a Universidad de la República Uruguay (Udelar). Era disponibilizado pela Udelar, em 2015, uma única vaga por semestre para toda a minha universidade, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), de área livre. Não consegui. Fui aconselhada, então, a entrar em contato com a SAI (Secretaria de Apoio Internacional da UFSM) antes que a listagem definitiva saísse. Liguei para lá. A vaga da Udelar já tinha sido preenchida, de fato, mas eu poderia tentar outras opções, caso me encaixasse.
Fiquei feliz com a possibilidade de ainda fazer o intercâmbio no semestre seguinte, mesmo que não para a minha primeira escolha, e fui pessoalmente até o setor responsável pelos intercâmbios na minha Universidade. Entre as universidades disponíveis, duas chamaram a minha atenção: Universidad Nacional de Cuyo (UNCuyo), em Mendoza, na Argentina; e Universidad Nacional de La Plata, em La Plata (UNLP), também na Argentina. Aí, me deparei com outra situação: Na UNCuyo a área era livre, mas não tinha curso de Turismo para que eu pudesse tentar; já na UNLP tinha o curso de turismo (aeee!!), mas a área não era livre: a UNLP queria um estudante de sociologia! Até então, a sorte parecia estar brincando comigo, rs. O rapaz que estava me atendendo disse que nenhum futuro sociólogo havia se candidatado à vaga. Pedi que ele entrasse em contato, ele ligou para a UNLP em seguida e informou que uma aluna estava interessada na vaga para intercâmbio, mas que não era do curso proposto. Meu coração na boca já, ele desligou o telefone e me deu notícias positivas!
AUGM Asociación de Universidades Grupo Montevideo & a Viagem até o destino do intercâmbio em La Plata
O programa que tornou meu sonho possível foi o AUGM – Asociación de Universidades Grupo Montevideo. O programa é uma rede de universidades públicas, autônomas e autogovernadas da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Sobre o programa, falaremos mais detalhadamente no futuro, em um próximo post aqui no Turismologia.
Preparei novamente a documentação, que eu havia primeiramente destinado à minha primeira opção de Universidade, para a UNLP. Tudo certo. Meu passaporte já havia sido reemitido, arrumei mais um emprego para conseguir pagar minhas contas e as despesas que teria que arcar, como deslocamento para La Plata e seguro viagem para todo o período. Escolhi uma empresa de seguro de viagem que era, aliás, indicado pelo programa e contava com um bom custo benefício na época. A ajuda financeira que o programa fornece para despesas desse tipo entraria em minha conta no meu primeiro mês de estadia fora do país, então, teria de assumir tudo antecipadamente. Como escolhi ir de ônibus (coragem!), não foi tão caro assim. Levando em conta o tempo de espera em uma e outra rodoviária, de Santa Maria (RS) a La Plata, foram umas 27 horas de viagem (em três ônibus)!
A chegada no destino
A Federación Universitaria Bonaerense é uma associação sem fins lucrativos que gerencia Centros de Estudantes em La Plata desde 1998, com a finalidade de auxiliar e dar suporte à estudantes de baixa renda. A mesma, devido ao seu convênio com a UNLP, seria a responsável pelo meu alojamento em La Plata e o presidente na época, Matias Bideberripe, entrou em contato comigo.
Eu era a primeira estudante da UFSM a ir para La Plata e me foi informado que ficaria em uma casa de estudante. Até aí, ok. Quando ele entrou em contato foi através de um e-mail sem assunto e assinatura, com uma breve apresentação e seu Facebook caso eu achasse melhor entrar em contato por lá. Ele me informou que eu ficaria no “centro de la ciudad de Loberia”, que depois descobri ser Centro de Estudiantes Universitarios de Lobería (CEUL). Procurei Lobería no Google e descobri que era uma cidade muito longe de La Plata. Posteriormente, o presidente me enviou o endereço: era de La Plata. Continuei achando estranho. Resolvi partir sem avisar ninguém de La Plata. Gente, olha o tamanho da burrice da pessoa, haha! Até entendo meu receio na época, apesar de todo o auxílio com a documentação e outros entraves que a Paulinha, nossa Cidadã do Mundo (parte da equipe aqui do Tirismologia), me deu, viajaria completamente sozinha para um lugar onde nenhum intercambista da UFSM ainda havia ido. Sou meio louca desse jeito mesmo, coisa triste (não façam uma viagem para um local desconhecido, onde permanecerão um semestre, por sinal; sem avisar seus anfitriões). Sou teimosa, mas sei que corri um grande risco, estava sujeita à muitos imprevistos.
Cheguei e fui à universidade: estava praticamente fechada por ser a última semana de férias. Um grupo de estudantes estava em uma sala com computadores, mostrei o endereço e falei sobre Matias e o grupo o conhecia. Acharam uma loucura eu ir sem avisar (óbvio!) e entraram em contato com o presidente. Não sei porquê, mas senti que poderia confiar neles: me ofereceram uma carona até o endereço e eu aceitei. Cheguei lá e me apresentei, o menino que abriu a porta para mim disse que não estavam esperando nenhuma Patrícia, perdi o ar. Após um breve momento de agonia, a Ayelén Martín, presidente da casa de estudantes onde estávamos, apareceu e disse que uma das intercambistas se chamava Patrícia, mas não haviam recebido aviso de sua chegada. Estava a salvo. O (sujeito) Matias apareceu na casa mais tarde: quase teve um infarto quando soube que eu já havia chegado. Como ele era o presidente da Fundación e o responsável pelos intercambistas que a mesma dava suporte, ele poderia se prejudicar se algo acontecesse comigo. Deu tudo certo, para a tranquilidade de todos.
Acomodação no intercâmbio – casa dos estudantes
A casa era antiga, grande e bem estruturada. Nela, viviam 16 jovens vindos de Loberia para estudar em La Plata (por esse motivo, o nome que levava) – Ou seja, não era mesmo longe da cidade e Universidade – ufa! O quarto que eu ocuparia pelos próximos meses seria dividido com outra brasileira. Marília, a mineira mais legal que existe, chegou no domingo, dois dias após a minha chegada. Com o Programa, eu tinha direito a um quarto em uma casa de estudante, despesas básicas como água e luz, desconto no restaurante universitário (estudantes argentinos pagavam 25 pesos, se não me engano; intercambistas pagavam 8,50 pesos) e um auxílio mensal pago em pesos (3 mil pesos, que equivaliam a um salário mínimo brasileiro daquela época).
Fui muito bem recebida pelos argentinos. Na noite de minha chegada, a casa tinha quase o dobro de pessoas que nela habitava. Oh, povo animado! Meu coração se aquecia com as experiências, conhecimento e com as novas amizades que sabia que traria comigo para sempre.
O início do intercâmbio – as aulas
Na segunda feira seguinte, dia 03 de agosto de 2015, estava eu em meio a pessoas do mundo todo na reunião de todos os intercambistas da UNLP. Era muita gente e fiquei animadíssima. Recebemos orientações como: em que setor da universidade apresentar nossa documentação, quem deveríamos contatar em caso de dúvidas, como faríamos para nos matricular nas disciplinas, onde era a localização das áreas de conhecimento, etc. Ainda, falaram um pouco sobre a universidade em si.
O Curso de Licenciatura em Turismo fica situado na Faculdade de Ciências Econômicas e tem duração de dez semestres. Os horários das aulas eram das 7 às 22 horas, porém, divididos em cinco períodos de três horas de diferentes disciplinas. Escolhi três disciplinas: tive professores turismólogos e alguns formados em outras áreas como psicologia, antropologia e biologia, todos incríveis em suas diferentes maneiras de lecionar e pacientes com o fato de meu castelhano ainda não ser muito bom (era terrível, na verdade, rs). Realizamos uma viagem técnica à General Belgrano, assim como visita técnica ao Museu, Teatro, Catedral e o primeiro e histórico Hostel de La Plata.
Diversas nacionalidades e as novidades culturais
Talvez por termos vivenciado o mesmo tipo de experiência, fiz amizade com muitos estudantes intercambistas, assim como com a Marília. Eram franceses, americanos, colombianos, mexicanos, paraguaios, peruanos, uruguaios, outros brasileiros e mais algumas nacionalidades. Fiz amizade também com algumas colegas argentinas e com os estudantes que dividiam a moradia comigo. Tive a oportunidade de ir a muitos encontros culturais em La Plata, que é uma cidade de estudantes sempre cheia de coisas para fazer, e na cidade de Buenos Aires que é incrível e fica a uma hora de distância. Morava perto do grande Museo de La Plata e do grande Paseo del Bosque, onde tem um planetário que promovia muitos eventos, shows gratuitos, festivais, como acontecia por toda a cidade.
A cidade foi fundada pelo governador Dardo Rocha, em 19 de Novembro de 1882. Planejada e construída especificamente para servir como capital da província de Buenos Aires, La Plata tem cerca de 850.500 habitantes e é reconhecida por seu traçado: um quadrado perfeito, com um excelente desenho das diagonais que a cruzam. Acreditem, há um bosque ou praça a cada seis quadras, independentemente da direção em que se vá dentro dos domínios da cidade.
Sou completamente apaixonada por La Plata: a cidade é um imenso museu ao ar livre, toda plana, com ruas e diagonais numeradas e arquitetura única. Sem contar que os platenses são muito hospitaleiros, divertidos e gentis. Pretendo voltar à cidade que me recebeu tão bem e conhecer muito mais da Argentina.
O aprendizado, as coisas que vi e experimentei, as amizades que fiz, o confronto cultural e a pessoa que me tornei por passar por essa experiência incrível é difícil de descrever: senti tudo muito intensamente, como se todos os dias fossem o último do meu intercâmbio. Quando retornei ao Brasil vi tantas coisas com outros olhos. Na verdade, assim vi antes mesmo de retornar, como quem “vê de fora” sua própria vida, suas relações, suas limitações, seu crescimento e amadurecimento.
Apenas deixo meu breve relato e aconselho (e apoio) que passem por isso também, permitam-se experimentar. Se já o fizeram, façam novamente! Aproveitem as oportunidades que a universidade dá, os professores estão aí para orientá-los e apoiá-los, assim como aconteceu comigo. Saiam de suas zonas de conforto, “intercambem-se”, aceitem o desafio.
“La vida es algo que no se detiene, ella transcurre” – Professor Psicólogo Tomás Grigera, UNLP.
Fontes:
Google (reutilização não comercial); Pexels,
https://www.laplata.gov.ar/#/ e imagens próprias.
Eu sou a Patrícia! Recentemente formada em Gestão de Turismo pela Universidade Federal de Santa Maria e consultora de intercâmbios em Santa Maria, RS. Sou alguém que deseja que o Turismo seja valorizado e respeitado, que deseja que o Turismo chegue a cada pessoa desse mundo, independente de sua faixa etária, sua condição econômica e social. Quero que o Turismo não seja visto somente como lazer, mas como uma oportunidade!