História das companhias aéreas brasileiras: LATAM

História das companhias aéreas brasileiras: LATAM

15 de Maio, 2024 0 Por Patricia Diniz

Hoje vamos conhecer um pouco da história, ascensão e algumas curiosidades sobre as três gigantes da aviação no Brasil: Latam, Gol e Azul! Vamos começar com a Latam, a mais antiga! Entre no grupo de avisos do Turismologia para saber em primeira mão quando o texto das outras companhias saírem (Whatsapp ou Telegram).

 LATAM (LAN e TAM)

Vamos focar principalmente na história da TAM, que nasceu no Brasil, no entanto, é importante primeiramente sabermos quem é a LAN e o momento em que se uniu à TAM para que haja um melhor entendimento da história completa.

A LAN era a Linha Aeropostal Santiago-Arica, criada pelo Comandante Arturo Merino Benítez em 1929. Em 1932, passou a pertencer ao Estado do Chile e por conta disso, a se chamar Companhia Aérea Nacional do Chile. Em 1946 e 1956, a companhia realizou o primeiro voo Santiago – Buenos Aires e inaugurou as operações em Lima, consecutivamente. Apenas dois anos depois, a LAN inaugurou as operações em Miami e, em 1970, passou a oferecer voos para a Europa, crescendo vertiginosamente.

Agora falando sobre a TAM, ela foi fundada como uma empresa de táxi aéreo, em uma sociedade de 5 pilotos na cidade de Marília/SP. A maioria deles trabalhava em uma empresa que já existia, a COMTAX, Companhia Mariliense de Táxi Aéreo. Na época, a cidade de Marília tinha o 3º maior aeroclube do Brasil, um polo de aeronautas e em 1961, esses 5 pilotos compraram seus próprios aviões monomotores, cinco aeronaves no total, sendo algumas delas da COMTAX, e assim criaram a Táxi Aéreo Marília: TAM. 

Nos primeiros anos da TAM, os aviões até operavam voos para transportar passageiros, mas o principal era o transporte de cargas mesmo, no Paraná, São Paulo e Mato Grosso. O Grupo Ometto, um dos maiores produtores de açúcar do Brasil, era o principal cliente da TAM na época. 

CAPITÃO ROLIM ADOLFO AMARO, UMA FIGURA ICÔNICA NA HISTÓRIA DA COMPANHIA

O Capitão Rolim faz parte de dois momentos da história da TAM, o primeiro deles foi como piloto, em 1963: na época, a TAM estava prosperando com o Grupo Ometto e precisando de mais pilotos. O Capitão Rolim foi contratado e nesse período a distribuição de profissionais para pilotarem os aviões era feita através de um esquema de listas; e o Capitão Rolim acaba por ficar no último lugar da lista. Ele só seria chamado antes da ordem, caso o cliente pedisse especificamente por ele. Bom,ele costumava agradar ao máximo os clientes para ser chamado de novo na próxima vez; tinha o hábito de focar muito no cliente. Guardem essa informação.

Nos três anos seguintes, ele transportou poucos passageiros que era o que ele realmente gostava – ele não gostava de transportar cargas – então acabou saindo da TAM. Trabalhou na Vasp e na Líder Táxi Aéreo, depois fundou a Araguaia Táxi Aéreo. Enquanto isso, já em 1967, com apenas 6 anos de empresa, a maior parte das ações da TAM foi comprada pelo Orlando Ometto, tornando-se o acionista majoritário. Em 1971, temos o início do segundo e mais importante momento em que o Capitão Rolim passa a fazer parte da história da TAM: Orlando Ometto, que estava tendo algumas dificuldades e perda de lucro na TAM, convida o Capitão Rolim a retornar para a TAM para sanear a empresa; ele aceita, mas com a condição de voltar como sócio de 50% e ainda prometeu lucro dentro de um ano. O Capitão foi bem sucedido em seu desafio.

Oportunidades a partir de políticas públicas

 

Em 1975, o governo criou o Sistema Integrado de Transporte Aéreo Regional (SITAR), que tinha como objetivo desenvolver a malha aérea na aviação regional, dividindo o país em 5 regiões com linhas aéreas que receberam concessão para operar serviços aéreos, e a TAM viu a oportunidade de se tornar uma empresa regular, com receita constante. Junto a essa oportunidade, no mesmo ano, o Capitão Rolim compra o restante das ações de Ometto por 2 milhões de dólares. Assim, o Capitão funda a TAM Transportes Aéreos Regionais, agora sim uma companhia aérea e não mais uma empresa de táxi aéreo, sendo 100% dono da TAM; que operava inicialmente em Mato Grosso e São Paulo.

A DÉCADA DE 1980 MARCA 1 MILHÃO DE PASSAGEIROS

Os anos de 1980 foram muito importantes para a história da companhia: em 1981, a TAM chegou a marca de um milhão de passageiros transportados! Em 1983, mais um marco importante aconteceu quando a história da LAN e da TAM começaram a se cruzar: a TAM constituiu a LAN, por meio da CORFO (agência governamental chilena). Em 1985, a LAN é transformada em uma sociedade anônima – mas não é nesse momento que as duas empresas se fundem. Também foi nessa década que a companhia começou a utilizar o Fokker F27, um avião maior que substituiu o EMB-110 de até então. Esse modelo trouxe maior visibilidade para a TAM e ajudou a abrir portas para que outras companhias da época também adquirissem o mesmo modelo, assim como o F50. 

Lembram que eu pedi para não esquecerem o quanto o Capitão Rolim gostava de transportar passageiros, lidar com gente? Foi com o Fokker F27 que o Capitão criou a icônica atitude de receber os passageiros na porta dos aviões, que voltaremos a falar mais a frente no texto.

Em 1986, a TAM adquiriu a companhia aérea VOTEC (Voos Técnicos e Executivos), que passou a se chamar Brasil Central Linhas Aéreas, ampliando os destinos para as regiões Centro-Oeste e Norte, ganhando uma fatia ainda maior do mercado regional. Nessa época, as tarifas aéreas no Brasil ainda eram tabeladas pelo governo e estavam em um momento de hiperinflação. O primeiro governo civil de José Sarney piorou a situação com o congelamento de preços, que não resolvia a situação. Todas as companhias aéreas brasileiras da época passaram dificuldades com esse congelamento. A TAM foi a que se saiu melhor, porque o Capitão Rolim foi o único entre os dirigentes de companhias que previu o desastre que traria aquelas medidas. As outras companhias acreditaram que aquela e outras medidas do governo dariam um jeito na economia do país; o Capitão fez o contrário, adotando um regime de austeridade: encolheu a companhia, diminuiu rotas, demitiu funcionários e vendeu aviões, cortou todos os gastos possíveis. 

Quando esse momento turbulento passou, as tarifas foram liberadas novamente, e enquanto as outras companhias estavam altamente endividadas, a TAM, apesar de estar com uma operação menor, tinha capital e quase não tinha dívidas.

DE 1990 ATÉ A ATUALIDADE: o começo da ponte aérea Rio – São Paulo

Em 1990, o Capitão conseguiu autorização para operar a rota Rio – São Paulo, de forma independente, ou seja, fora do esquema de ponta aérea, a TAM não fazia parte do consórcio. E como funcionava esse consórcio?  Se você comprasse uma passagem na Vasp, você voava no Electra (avião monoplano bimotor, todo em metal, de asa baixa e trem de pouso retrátil) da Varig; se comprasse uma passagem na TransBrasil, voava no Electra da Varig, se comprasse uma passagem na Varig, voava no Electra da Varig; no fim o voo era sempre na Varig. Sem querer fazer parte disso, os voos da TAM eram no Fokker F27, um avião de menor porte que o Electra, com menos assentos para passageiros pagantes, então o valor da passagem era mais caro do que nas outras companhias. Para isso, o serviço precisava ser prestado de maneira impecável, e era! Atendimento individual para cada passageiro, refeições excelentes, ambiente luxuoso, muita cortesia e voos muito pontuais. O trecho Rio – São Paulo era utilizado principalmente por executivos, onde o dinheiro geralmente não era problema e eles adoravam esse serviço mais exclusivo. Esse foi apenas o começo! 

O Capitão Rolim considerou comprar a Vasp, mas os Electras da cia estavam velhos e ele percebeu que a companhia não estava indo bem, então desistiu da compra. Foi para a Holanda e comprou 2 Fokker F100: o jato holandês foi um marco no Brasil, silencioso, mais leve e consumia bem menos combustível! O DAC (Departamento de Aviação Civil, que depois veio a ser substituída pela ANAC que conhecemos hoje) não gostou muito e levou mais de 20 dias para liberar os dois jatos para uso, e ainda: restringiu o uso apenas para rotas diferenciadas, que não traziam a receita necessária para a operação. Isso porque digamos que o DAC ia sempre a favor da Varig, que era a maior companhia aérea até então, de gestão estatal e com monopólio nos trechos internacionais.

Posteriormente, o Capitão adquiriu mais 2 Fokker F100, abrindo cada vez mais espaço para as operações. Ele sempre fazia questão de contar a história dos Fokker F100 e da TAM para os passageiros, aprimorando o relacionamento com o cliente. Veja: ele trocava cartões de visita com os passageiros, escrevia ou ligava para eles perguntando como tinha sido o voo, se tinham alguma sugestão de melhoria, etc.! Quem não gostaria de ter um tratamento tão especial, diretamente do diretor da empresa? Isso foi gerando muita propaganda no bom e velho boca a boca e os Fokker F100 foram ficando cada vez mais cheios. 

Diferenciais TAM

Várias outras ideias do Capitão ficaram famosas, como a compra dos direitos do Reizinho (personagem de história de quadrinhos da época) e personalizar tudo o que podia à bordo simbolizando que seus passageiros eram tratados como reis. Além disso, foi nessa época que ele passou a colocar um tapete vermelho para seus passageiros utilizarem ao entrar nas aeronaves. Se um passageiro tinha uma reclamação a fazer, havia um canal de atendimento que se chamava “Fale com o Presidente”: passava por uma triagem e obviamente não eram todos os casos a falarem direto com o Capitão, mas muitas informações chegavam até ele e ele tomava providências a respeito. 

Tapete Vermelho, estratégia de diferenciação pelo atendimento ao cliente

O tempo foi passando, a TAM foi crescendo e já batia de frente com a Vasp, Varig e a TransBrasil, com uma fatia cada vez maior do mercado e com esse serviço diferenciado, as outras companhias sentiram o baque. Em 1996, a TAM compra a companhia Lapsa, do governo paraguaio, estatal e completamente falida, e cria a TAM Mercosur. 

Em 1998, chegou o primeiro Airbus A330 e a companhia aérea realizou seu primeiro voo internacional de São Paulo para Miami, e seguiu expandindo enquanto as outras companhias declinaram. 

Em 2001, o Capitão Rolim morreu tragicamente em um acidente de helicóptero no Paraguai, aos 58 anos de idade. A TAM nunca mais foi a mesma por não ter mais o estilo pessoal do Capitão, mas não apenas isso. O mercado de aviação no Brasil mudou muito desde então, é difícil prever o que teria acontecido se ele estivesse vivo, se ele teria comprado a Varig antes que a Gol o fizesse, que era algo que tinha cogitado. Aliás, em 2003, a TAM e a Varig até assinaram um acordo para se fundirem, as operações foram integradas, durou apenas um ano e não deu certo por terem culturas muito diferentes; os executivos e funcionários não se entendiam, entre outras razões. Nunca saberemos como teria sido sob a gestão do Capitão, apenas que seu estilo ousado e seu cuidado com a satisfação e experiência dos clientes foram fundamentais para o que a empresa é hoje. 

Em 2008, a companhia recebeu seu primeiro Boeing 777-300ER, aumentando cada vez mais a frota de aeronaves. E em 2009 começaram as negociações para a fusão entre a LAN e a TAM. Foi na década de 2000 que a TAM se tornou a maior companhia aérea do Brasil. 

Em 2011, a LAN e TAM assinaram os acordos vinculantes de parceria entre as duas companhias aéreas. Em 2012, nasce o Grupo Latam Airlines, com a associação da LAN e da TAM. 

Em 2013, aumento de capital para US$ 940,5 milhões da companhia (em 2007 estava em US$ 320 milhões). Em 2015, nasce a LATAM, enfim, a nova marca que a LAN, a TAM e suas subsidiárias adotam até hoje.

A LATAM hoje tem como valor de mercado US$ 8,20 bilhões e faz parte da história da aviação no Brasil, passou por momentos importantes como o governo militar e depois a transição para o civil, congelamento de tarifas e muitos outros! 

A Latam já existia quando Varig, Vasp e TransBrasil caíram, assim como quando a Gol e a Azul surgiram. E essas últimas serão nossos próximos assuntos aqui no Turis! Para ver a história também representada em imagens, Clique Aqui.

 

 

Referências: 

[1] [2] [3] [4] Imagens: [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] (mais de uma imagem no 4).

Author: Patrícia Diniz

Turismóloga, o que me move é ajudar as pessoas a realizarem seus sonhos: atuo na área de agenciamento e consultoria há mais de 8 anos. Atualmente, lidero e coordeno a filial da Egali Intercâmbio em Maringá/PR, além de ajudar muitos intercambistas a tirarem a ideia do papel! Para mim, antes de qualquer outra coisa, Turismo é oportunidade