7 DESAFIOS DO TURISMO – atualizado em 2024
Não é segredo que um dos grandes objetivos do turismo no brasil deveria ser o desenvolvimento do país como destino turístico. No entanto, para que isso aconteça temos alguns desafios importantes pelo caminho. Eu diria mais bem que os desafios poderiam virar metas facilmente. Selecionei os desafios que considero mais importantes e urgentes.
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Quais são os principais desafios do Turismo no Brasil?
1. Pouca concorrência
Poucos mandam, muitos obedecem.
A concorrência possibilita melhores serviços e preços menores aos consumidores. Quanto menos empresas atuarem em um determinado setor, mais elas têm poder sobre os serviços e monopólio sobre a demanda. E um dos principais exemplos que temos disso hoje no Brasil é o caso das companhias aéreas. O Brasil tem 3 (três) grandes companhias aéreas em operação que são responsáveis por 99,5% dos passageiros, segundo a Anac. Segundo notícias recentes, teremos 4 cias até o final de 2024, já contando com a mais nova Andorinha. No entanto, ainda é um número pequeno se comparado à outros destinos. Por exemplo, vamos pensar em outro cenário: a União Europeia, território de países seletos na Europa, tem, em termos de território, metade do tamanho do Brasil. A União Europeia tem mais de 100 companhias aéreas em operação, segundo a Comissão Europeia.
Segundo o departamento de Mobilidade e Segurança da União Europeia, existem mais de 100 companhias aéreas em operação no território sinalizado em vermelho no mapa, que é o atual território da União Europeia. Já no Brasil, representada pela a porção azul do mapa, existem 3 grandes companhias aéreas em operação.
Como é possível que exista uma concorrência limpa e o mais justa possvel quando há um mercado tão grande concentrado nas mãos de poucas empresas?
Veja, um território que é metade do tamanho do Brasil tem 3.333% a mais em número de empresas aéreas. A situação no Brasil é apenas insustentável da forma como está.
A resposta, no entanto, não é criar leis e políticas públicas que obriguem as aéreas a baixarem de preço, porque essa é uma das medidas artificiais de governos que não são saudáveis e, portanto, não se sustentam economicamente. Especialmente se o combustível não baixar de valor. A solução precisa ser aumentar a concorrência, uma forma saudável e sustentável no longo prazo.
Mas como fazer isso?
Maior liberdade econômica, adequação à legislação internacional, maior segurança jurídica, menos burocracia.
A maior liberdade econômica e a adequação da legislação brasileira às regras internacionais facilitam o interesse de novas companhias em investir no Brasil. Já a segurança jurídica e o enquadramento de legislação internacional faz com que elas venham efetivamente ao país, afinal com um ambiente inseguro, de desordem e com regras totalmente diferentes das internacionais, faz com que não seja lucrativo para grandes empresas – elas escolherão países mais estáveis – política e juridicamente. A diminuição de vistos ou mesmo eliminação de exigência de vistos para países estratégicos é imperativa, para que além da concorrência, aumente também a demanda de turistas – o que é um grande chamariz para o investimento estrangeiro (mais dólares circulando -> maior possibilidade de gastos).
Quanto mais livre for o mercado, mais empresas se interessaram por atuar no país. Dito de outra forma: o Estado precisa fazer o mínimo de regulações necessárias e permitir o desenvolvimento e crescimento de empresas no país, pois são elas o motor da economia. Dessa forma, o consumidor, como centro das decisões do mercado, terá maior possibilidade de escolha e as empresas precisarão elevar o nível – o que não precisam fazer agora já que detém o controle do mercado, e tem mais influência – e poder – sobre decisões governamentais.
2. Infraestrutura precária e sinalização parca
Turistas perdidos e insatisfeitos.
Pensa o seguinte: um turista desembarca em São Paulo e passa alguns dias na cidade. Depois desse tempo, decide pegar outro voo para o Nordeste e passar alguns dias por lá. Mas ao buscar voos se assusta com o preço das passagens, porque como vimos anteriormente, a concorrência é quase inexistente, o que permite que as cias ‘pintem e bordem’ com preços e serviços (e atrasos). Mas o turista viajou tanto, pagou caro pela passagem e quer aproveitar. Pega um voo e desce em uma das capitais. Decide ir da capital a uma das praias mais afastadas, mas tem dificuldades em se locomover entre as cidades. As estradas são ruins, ou não estão mapeadas, ou ainda não estão sinalizadas. Sem GPS fica impossível se locomover. Com GPS, é difícil, porque muitos locais não estão bem mapeados. Isso acontece no Sul, no Nordeste, Centro Oeste, e… enfim, pelo país todo de forma geral. Com poucas opções de transporte público, o aluguel de carro – com preços absurdos – acaba sendo a única opção. O que causa desconforto no turista.
Essa historinha apenas ilustra algumas das dificuldades que um turista encontra ao chegar no Brasil, país em que a mobilidade é difícil e cara. Muitas vezes perigosa e pouco sinalizada. Em um país em que a segurança é um dos principais problemas e a violência é o cartão de entrada pelo qual todos nos conhecem, o Turismo não é suficientemente atrativo por si só. O Turismo precisa de incentivos. Essa é uma das razões pelas quais exigir visto de turistas que podem trazer investimentos estrangeiros (em moeda mais forte) é uma péssima ideia.
Veja ainda que não chegamos a comentar sobre os aeroportos e a bagunça que os passageiros precisam enfrentar ao desembarcar aqui. Os principais aeroportos do país operam sob grande desorganização e falta de liderança, com uma perceptível falta de treinamento dos funcionários. Esses são relatos meus, de experiência própria, mas também de centenas de passageiros que comumente se sentem lesados pelas companhias aéreas e pela falta de informação.
Além de, claro, poucos funcionários conseguirem se comunicar inglês – mas calma, isso é papo para os próximos desafios. Continua comigo.
3. A profissão ainda não é vista como um negócio
Turismo ainda é a profissão dos sonhos.
Tanto por parte do setor público como dos próprios profissionais do Turismo. Esse é definitivamente um dos mais importantes desafios para que o Brasil se desenvolva e estabeleça como destino turístico.
É importante pensar que o Turismo é um sonho e uma grande realização de muitas pessoas. Sim, sabemos que existem diversas motivações para se viajar: férias, descanso, status, pertencimento, negócios, saúde, e muito mais. Porém, é preciso lembrar que assim como o Turismo é sonho para os turistas, a casa própria é sonho para pessoas. Mas nem por isso a engenharia civil é vista como a profissão dos sonhos. É preciso ter cuidado em como se fala do Turismo, à começar pelos próprios profissionais que estudam/atuam na área. Turismo não é sonho, Turismo é profissão.
Portanto, como mínimo, precisa pagar as contas.
Turismo é setor da economia, portanto precisa dar lucro. Precisa ser bem planejado e desenvolvido. Mas sobretudo dar lucro.
O Turismo precisa deixar de ser visto como a profissão utópica que vai salvar o planeta. Precisa sim ser pensada como a profissão que possibilita o desenvolvimento social, a conservação de patrimônios e ambiental, a propagação e manutenção das culturas. Mas não como o filho altruísta que abdica da mesada para dar aos irmãos. Precisa tomar a sua parte, entregar resultados, gerar lucro e devolver à sociedade. Começa pelos profissionais: o Turismo precisa possibilitar o crescimento de carreira, promoções, aumento de salário e qualidade de vida. É preciso acabar de uma vez por todas com o pensamento que permeia muitos na área de que ganhar dinheiro é só uma pequena parte. Não é. É parte essencial da profissão. Sem isso, ela jamais será vista como profissão – e ficará apenas nos sonhos.
4. Pouco marketing
A tal da vergonha de vender.
Messi, Mafalda, tango. Ao ouvir falar desses eu sei que você lembra da Argentina. E mais: talvez até tenha uma lembrancinha de lá, né? Qualquer coisa que você tenha, vai ter algum desses itens: seja uma frase engraçadinha da Mafalda, um casalzinho dançando tango em uma esculturazinha de madeira, um obeslico em miniatura, ou uma camiseta do Messi. Talvez você não tenha nem uma do Brasil, do… como é mesmo o nome dele, ah sim, do Pelé, mas do Messi… Ah, esse você sabe quem é.
Tudo bem, também temos samba, caiprinha e praias. Como vimos, também temos o Pelé. Mas… o quanto comercializamos o que é realmente nosso?
Os brasileiros são os que mais se destacam quando o assunto é o uso de redes sociais. Somos conhecidos por ser um povo com criatividade, conectado e engajado. Mas não parecemos comercializar isso. Na real, eu acho que não fazemos isso mesmo.
A comparação com outros destinos, com como eles se orgulham do que é seu, comercializam de diversas formas, é algo que nós fazemos de graça. O brasileiro parece ter certa vergonha de mostrar o que é nosso, sempre com um sentimento de inferioridade, ou de medo de parecer arrogante – o que me parece vir da baixa autoestima. Ou ainda… Parece achar errado vender, se vender. Mas… tudo tem um preço. Essa é a verdade. E se nós dermos o nosso ouro de graça, com o que ficaremos?
Tudo começa no profissional.
Já ouviu falar que nós temos uma enorme dificuldade de vender no Brasil? Pois é, esse é um dos grandes gargalos que percebo hoje e que é definitivamente um dos grandes empecilhos para o desenvolvimento do Turismo no Brasil.
a) E pasme: tudo começa na dificuldade do profissional de falar sobre a sua trajetória, suas conquistas, nas próprias seleções de trabalho. E é pior: qualquer demonstração de resultados pode ser vista como arrogância, o que constrange algumas pessoas. E isso é bastante prejudicial, afinal, o Turismo é uma profissão nova, conhecida por poucas pessoas, se não for apresentada da maneira correta por quem trabalha nela, não será reconhecida por quem é de fora.
b) Mas vai além: o pouco cuidado dos profissionais com a sua imagem e reputação. A falta de presença nas redes sociais: quantos de vocês, ou profissionais que vocês conhecem, tem um perfil no Linkedin estratégico e que gera resultados, realmente um bom perfil, que fale da sua trajetória de maneira a demonstrar seus resultados e pontos fortes?
Sim, é sobre comercializar nossos produtos, nossas belezas, nosso países. Mas também a nossa trajetória.
E não se sinta mal: comercializar não é algo ruim. Talvez ainda seja visto como algo ruim porque a profissão não é vista como profissão. Mas não deveria ser assim. O Turismo é profissão e, portanto, é um setor importante da economia. Para isso, precisa gerar lucro. Portanto, encontremos maneiras de gerar lucro.
Pra mim, essa vergonha começa na insegurança profissional. Falaremos mais disso a seguir.
5. A falta de mobilização individual.
A eterna espera pela união do trade.
Muito se fala no que “o trade” precisa fazer. Mas quem é o trade? Quem são “eles” que devem resolver o Turismo para que nós possamos trabalhar e ser valorizados? Associações, empresas, governo, professores, chefes, quem? Entende que, pensando assim, não há um responsável e, portanto, não há o quê, nem a quem cobrar? Sendo assim, não há um objetivo, um responsável, um líder, ou mesmo um resultado?
Esse é o grande problema da necessidade de “mobilização coletiva”. Essa é uma grande balela feita que serve como uma desculpa perfeita para ninguém fazer nada. Cuidado para não entrar nessa sem querer. A narrativa é forte. Eu mesma já entrei, mesmo que não conseguisse perceber na época. Sabe o que eu pensava? “Preciso sair do Brasil, aqui as coisas não funcionam, o governo é corrupto, as coisas são tão complicadas que não se pode mudar. As empresas não valorizam, as instituições buscam coisas que eu não quer. Vou pra fora, aonde posso ser reconhecido e trabalhar ganhando bem”.
Viu o seu reflexo aí? Pois é. Eu já me olhei várias vezes nesse mesmo espelho e te garanto que a imagem só piora. Porque nada muda. Mas o tempo passa. E quando isso acontece, você percebe que ficou pra trás.
Neste item, especificamente, eu chamo você para um desafio: comece pela sua carreira.
Sim, apesar você achar que o Brasil não tem oportunidades, você está enganado. “Aonde tem problemas, tem oportunidades.” Foi quando eu ouvi isso, que eu decidi investir minha carreira no Brasil. Porque eu sabia que o amor que eu sentia pelo meu país podia me mover a construir o Turismo que eu queria. E foi aí que eu encontrei meu caminho de carreira: no problema. Quando falta inglês, aprenda. Quando faltam habilidades, desenvolva-as. Quando falta oportunidade, crie uma.
Portanto, esqueça o trade por um momento. Ou melhor, esqueça que qualquer pessoa tem responsabilidade sobre a sua carreira. E assuma você a responsabilidade de fazer acontecer. Comece conhecendo a profissão que você escolheu, entendendo quais possibilidades ela oferece, em que áreas e segmentos você pode trabalhar, aonde você gostaria de morar, como gostaria que fosse a sua vida. A partir daí, defina um objetivo, trace metas e execute. Ação, essa é a palavra-chave. Aja. Independe do trade. Aja.
Fazendo a minha parte, lancei um Guia Global de Carreiras em Turismo, um ebook com quase 40 possibilidades de carreira no turismo. Esse guia pode te ajudar a entender melhor do Turismo como profissão e a escolher caminhos de carreira para atuar. Neste livro digital, com acesso imediato ao conteúdo, você tem um panorama das possibiliades no Turismo, vagas e oportunidades reais do mercado, além de empresas atuantes em diversos segmentos.
6. Formação de líderes - e desenvolvimento de habilidades e competência profissionais
Líderes que não lideram.
Segundo a lógica do desafio anterior, quero trazer um ponto muito importante e essencial: faltam líderes no Turismo. Não só no Turismo, mas é dele que falamos aqui, então vou focar na nossa profissão. As empresas tem enorme dificuldade hoje em encontrar bons líderes. São eles: profissionais que assumem a responsabilidade pelo resultado, que inspiram outros a darem o seu melhor, que buscam a excelência e que resolvem problemas. Líderes são profissionais que chamam a responsabilidade pra si, não culpam terceiros, fazem o que precisa ser feito e com a sua postura e ações arrastam equipes.
Mas o líder não é aquele coach motivacional não, viu? Não tenho nada contra coaches, só não estamos falando disso aqui. Líderes são profissionais que motivam sim, mas motivam com ações e resultados, quando assumem as tarefas mais difíceis, aquelas que ninguém quer fazer, que desenvolvem competências e habilidades, que trabalham além do horário sem reclamar, que negociam aumento de salário, que ajudam a equipe a crescer.
O Brasil está precisando de líderes. O Turismo precisa de líderes. A falta de habilidades técnicas e comportamentais essenciais prejudica grandemente o desenvolvimento da atividade turística. Por exemplo: pessoas que assumam a responsabilidade de se desenvolverem, sem esperar que outros o façam, que buscam aprender inglês, que se interessam por se atualizarem.
Um dos grandes desafios do Turismo no Brasil começa nos próprios profissionais que dizem sentir um amor pelo Turismo, mas não desenvolvem habilidades básicas e essenciais para o seu crescimento. É preciso começar por isso: pelo desenvolvimento de habilidades e competências globais.
Aqui fica um convite para participar do primeiro evento de atualização do Turismo, que acontece em março, e vai reunir mais de 15 especialistas em Turismo no Brasil e no exterior, em apenas 2 dias de uma imersão completa na profissão mais importante do futuro, a nossa. Veja as informações na página oficial do evento.
7. Pouco nacionalismo
Vergonha de ser brasileiro.
Amor à pátria. Temos o Pelé, mas não parecemos demonstrar o mesmo amor à ele que a Argentina demonstra ao Messi. Já falamos sobre isso. Não se preocupe: não vai ser um tópico repetitivo. É claro que tem relação com o que já falamos, mas é que tudo está interligado.
Quando falo de nacionalismo, falo sobre o orgulho de ser brasileiro. Sim, orgulho de ter nascido no Brasil. Lembro dos meus amigos italianos e do quanto eles se orgulham de dizer que são italianos, desejam voltar à Itália e morar lá, ajudar a construir seu país, comer gastronomia rica. Chamam seu país de “a mãe pátria”.
Será que a Itália não tem problemas políticos? Será que não tem problemas estruturais? Será que não tem conflitos?
Pois é. E apesar de tudo isso, é com orgulho que os italianos falam dela.
Acho que nós precisamos um pouco mais disso também. Um pouco mais desse amor. Não porque está tudo perfeito, mas justamente o contrário: sem amor à pátria, ao que é nosso, de onde viemos, que motivação teremos para construir o Turismo aqui no Brasil?
Viajar para a Argentina e sair sem se apaixonar pelo país é quase impossível. A infraestrutura do país ajuda, mas não é isso que faz com que os turistas saiam apaixonados com vontade de voltar. É o amor que os argentinos parecem demonstrar, é como eles vendem o seu país não só na forma como falam, mas nos souvenirs, nos produtos, nos atrativos e na forma de fazer Turismo. Precisamos aprender um pouco sobre isso com nossos hermanos. Eles certamente têm algo a ensinar: nacionalismo.
Encerro este texto com a certeza de que temos grandes desafios pela frente. Mas confiante de que quanto mais entendermos deles, mais saberemos que objetivo definir e planejar maneiras de conquistá-lo.
Gostaria de saber a opinião de vocês: como você observa esses desafios na sua realidade?
Formação de Carreiras no Turismo, sou Mestre em Gestão de Turismo, fundadora da Escola de Turismólogos e do Turismologia.
Com mais de 13 anos de experiência no Turismo, ofereço capacitação para empresas do Turismo, acelerando resultados e aumentando produtividade, através de palestras e treinamentos.