O Planejamento na Gestão Pública no Turismo
Muito antes de falarmos em pandemia, eu já batia na tecla de que a gestão pública do turismo precisa de planejamento. Hoje existe a constatação de uma realidade que é sentida por todo o trade turístico. Especialmente depois dos últimos três anos, percebemos que os desafios do Turismo aumentaram, o que traz a necessidade de falarmos ainda mais sobre o que precisa ser feito na iniciativa pública. Segue comigo que eu quero mostrar alguns dados e discutir a situação atual.
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o turismo brasileiro perdeu mais de R$274 bilhões entre os meses de março de 2020 e janeiro de 2021, sendo registradas mais de 397 mil demissões. Isso representa uma queda histórica, recuando 36,7%, se comparado ao ano 2019*. Os números assustam, né? E você já pensou em todas aquelas pessoas que são impactadas indiretamente pelo turismo e que não constam nesses números? Pois é, possivelmente esses números são ainda maiores.
Os desafios do gestor público do turismo sempre foram muitos e em tempos de pandemia eles se multiplicaram exponencialmente, porém a palavra-chave para o sucesso do setor é uma só: PLANEJAMENTO! Mas não entenda o planejamento como somente uma visão de longo prazo, esse planejamento precisa ser real e condizer com a realidade do seu município. Nenhum documento pronto dará um resultado imediato, portanto esse é o momento de sentar, analisar o cenário e realizar um planejamento com início prioritário, tendo metas e objetivos de curto e longo prazo.
Pensa aqui comigo sobre o que esses números representam: a necessidade de o gestor encontrar maneiras de mitigar os efeitos negativos dessa perda de capital humano – e financeiro. Será que um planejamento de gestão de crise poderia ter ajudado destinos nesse momento? Sim! E para ser sincera, devo dizer que é muito difícil mensurar o quanto um plano impactaria, pois poucos são os destinos que possuem esse plano de contingência, mas aqueles que possuem esse documento, elaborado por um profissional técnico, e colocam as ações previstas em prática, colhem seus benefícios.
Mas calma! Se você já tem um planejamento pronto, não precisa ignorá-lo e correr para fazer outro completamente do zero, o que você precisa fazer agora é sentar e revisar o que você já tem de planejamento e de informações. Aliás, não importa o planejamento que se faça – é preciso revisá-lo com frequência e readaptá-lo às mudanças e as novas exigências que se apresentam. Um plano, segundo a teoria da Administração, precisa ter, entre outras, uma característica essencial: a flexibilidade.
Por essa razão, sugiro que você, gestor do Turismo, procure entender o conceito de mundo VUCA, que foi criado em 1990, mas até hoje explica o cenário de incertezas em que vivemos. Ele é fundamental para que possamos nos adaptar a situações inesperadas e a rapidez com que as coisas acontecem – um exemplo disso é a pandemia e a crise posterior que estamos vivendo. Para além desse conceito, deixo uma sugestão de ferramenta prática, que você pode aplicar no seu planejamento. Você conhece o ciclo PDCA?
Essa é uma ferramenta da administração que ajuda o gestor a controlar, através de métricas, o andamento e o resultado de um plano. Trata-se de uma metodologia que visa a melhoria contínua de processos, utilizando o planejamento e a medição de resultados.
Vamos à um exemplo prático. Tenho escutado muitos gestores animados com a tendência do turismo regional, que de fato tem sido exposto por diversos veículos de comunicação e especialistas como uma tendência, porém não adianta você cruzar os braços e esperar que o turista bata na sua porta, ou melhor, ele pode até bater uma vez… Mas me responde com sinceridade: ele vai retornar?
Entramos aqui na parte que importa: o seu município está preparado para receber um turista? O trade turístico da sua cidade está trabalhando em harmonia? Qual o diferencial da sua cidade? E porque o turista deve sair da sua casa para visitar o seu município? Nesse momento, faz-se importante criar – ou adequar – um plano de ação. O plano começa com uma análise situacional, buscando entender qual é a realidade atual do seu município: temos infraestrutura e a estrutura necessária para receber turistas? O que nos falta e como podemos preencher as lacunas para atração de turistas?
A boa notícia é que o desejo de viajar está pulsando cada vez mais forte, o isolamento fez com que as pessoas desejassem ainda mais se sentir livres, e o reflexo disso resultou na possibilidade de consolidação de novos destinos turísticos. O seu município ainda pode ser um deles, se você enquanto gestor, souber gerir a demanda turística existente transformando-a em oportunidades.
Saia da promessa, realize o seu planejamento e execute ações. Ouça o trade turístico, e trabalhe de forma conjunta com todos os segmentos, eles sabem a realidade, que por vezes, você desconhece. Use e abuse do potencial criativo da sua cidade. INOVE, EXPERIMENTE, OUSE, proporcione espaço para a difusão cultural existente em seu município; isso representa vida, valores, respeito e identidade, que tende a ser o que o novo turista busca.
Não vou iludir você dizendo que é fácil, pelo contrário, será uma tarefa árdua, dura e cansativa, mas com certeza recompensadora. Bom trabalho!
PS: Obrigada por ter lido até aqui ♥ no Turismologia, semanalmente, nós criamos conteúdos únicos, pautados na visão do profissional turismólogo e aplicado em diversos segmentos do setor.
*Nota do editor: 2019 é o ano referência para comparação de dados de forma geral. 2020 não é um ano típico, portanto, os dados referentes a esse ano não são utilizados para comparações.