Como empreender com turismo de natureza

Tão importante quanto tomar a decisão de empreender, é saber o que você irá vender. Definir o serviço que será oferecido para as pessoas é um dos pilares chaves do seu negócio, faça pesquisas e entenda o que as pessoas estão querendo consumir e crie experiências que elas estejam dispostas a comprar. É importante também entender o contexto do ambiente onde você irá oferecer suas atividades, busque saber se as pessoas estão querendo esse tipo de serviço e se estão dispostas a pagar por ele. 

Para além da definição do produto, ofereça valor agregado, entregue mais do que o cliente espera; itens opcionais também são uma boa pedida, assim você irá enriquecer o seu faturamento, oferecendo mais e mais serviços que você sabe que o cliente irá precisar, e no turismo isso não é muito difícil de executar. Por exemplo: se você pretende criar excursões de atividades de caminhada em um destino com muitas cachoeiras, saiba que os turistas geralmente querem comprar souveniers das viagens, você pode fazer um acordo com grupos de artesãos para criar uma lembrancinha personalizada com a sua marca, para dar a cada cliente no final da experiência. 

Essa etapa é tão importante que pode ditar o sucesso ou o fracasso de um negócio, planejar e executar esse são os pilares de um negócio bem sucedido. Crie planejamentos práticos como a metodologia Business Model Canvas, que é rapido e prático e te dará um panorama estratégico de como tocar esse negócio. Há várias ferramentas digitais para acompanhar um planejamento, cito aqui algumas, como o Trello, Jira, Notion entre outros, todos possuem versões gratuitas. 

Mas mais importante do que qual ferramenta você irá usar é o executar: é fazer de tarefas ações realizadas, para que se tenha uma efetividade de tudo o que foi planejado, e é importante acrescentar que planejamentos não foram feitos para ficar na gaveta, eles devem ser usados, revisados e se necessário alterados, devem ser documentos dinâmicos. Inclusive, se você é um gestor público, sugiro que leia este texto, que contém ferramentas de planejamento que podem ajudar.

O foco no planejamento deve ser sempre a melhoria contínua, ter em mente que é sempre preciso melhorar os nossos serviços e para isso precisamos melhorar como pessoa, é imprescindível para a sustentabilidade de um negócio, além de encorajar o empreendedor a arriscar mais pois o conhecimento cria empoderamento. O importante em empreender é começar, mesmo não estando perfeito, é preciso iniciar e ir melhorando no caminho, executando, aprendendo e melhorando sempre.

Um método interativo para a sua gestão é o PDCA, o acrônimo deriva dos termos em inglês Plan (planejar), do (fazer), check (avaliar) e act (agir). Na primeira etapa de “Planejar” (P) são definidos os resultados esperados e o planejamento das ações necessárias para alcançar os objetivos propostos. No o “Fazer” (D) os processos devem ser organizados, comunicados à equipe responsável e executados, o passo seguinte o “Avaliar” (C), consiste em avaliar os resultados que precisam estar embasados nos indicadores de desempenhos que devem ser definidos no momento do planejamento, e por fim o “Agir” (A) que consiste em promover melhorias continuamente para os processos propostos. Essa ferramenta pode ser aplicada no planejamento geral da empresa ou em setores específicos.

E entenda, mais importante do que planejar, é executar o que foi projetado.

Para empreender é necessário estar em dia com as obrigações legais, a primeira delas é, abrir um CNPJ, dependendo da atividade que você for executar (você deve consultar se o CNAE Cadastro Nacional de Atividades Econômicas se enquadra dentro da modalidade de MEI), inicialmente você poderá abrir um MEI, Micro Empreendedor Individual, essa modalidade possui uma cobrança simples e barata de impostos e pode ser uma boa opção para quem vai começar, o MEI pode contratar até um funcionário e não pode ter faturamento superior a R$ 81 mil por ano além de não ser obrigatório a contratação de contador e caso saia do enquadramento das diretrizes do MEI, você poderá mudar sem problemas para outra modalidade.

Ainda sobre formalização é imprescindível que você entenda quais são as principais leis que você precisa seguir para estar ok com a legislação vigente, a principal delas no turismo é a Lei 11.771 de 2008, conhecida como a  Lei Geral do Turismo. Ela define as diretrizes, regula, define direitos e deveres sobre as atividades da cadeia produtiva do turismo, vale ressaltar na lei a instituição do Plano Nacional de turismo, a obrigatoriedade do CADASTUR para alguns prestadores de serviços e facultativo para outros, além de ter reunido várias normas e leis que estavam dispersas em um único dispositivo jurídico.

Leis que você deve seguir
Dentro da temática que propomos aqui, de empreender com turismo de natureza, é importante referenciar aqui um dispositivo legal sobre turismo de aventura e ecoturismo. No art. 34 do decreto 7.381, que regulamenta a Lei Geral do Turismo, são instituídos os deveres de empresas que trabalham com turismo de aventura; há uma série de requisitos neste artigo que precisam ser seguidos pelas empresas desse ramo, mas não vou citá-los aqui neste texto, ficará para um próximo devido a necessidade de explicação detalhada de cada um dos pontos, mas você poderá acessar o decreto nas referências logo abaixo.

Em resumo, a Lei Geral do Turismo é o dispositivo legal que qualquer pessoa que trabalha na área precisa conhecer e aplicar. Sugiro que você busque se informar sobre essa lei e sobre todas as demandas legais.

Outro dispositivo legal necessário para quem vai empreender com turismo é o código de defesa do consumidor, nele há vários deveres que as empresas precisam cumprir para um bom atendimento e prestação de serviços aos clientes.

E para quem quer empreender com turismo de natureza, saber sobre a legislação ambiental é realmente necessário, pois ao desenvolver atividades em áreas ambientais, é necessário cumprir requisitos legais, principalmente os ligados à preservação do meio ambiente e do uso sustentável dos recursos naturais, essa legislação, traz diretrizes para se cumprir com aspectos legais e de proteção ao meio ambiente, para operar atividades de turismo na natureza, e minimizar os seus impactos no ambiente natural. As principais leis nesse quesito são a Lei de crimes ambientais Nº 9.605 de 1998 e a Lei de criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza nº 9.985 de 2000.

A Lei 13.709 de 2018 conhecida como LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), também é necessária para quem vai empreender, ela dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural. É preciso conhecer a lei e aplicá-la, mas para facilitar sua aplicação, hoje em dia existem empresas que oferecem consultoria para que você se enquadre nos requisitos da lei.

Esse ponto deveria ser o básico ao prestar um serviço, mas infelizmente muitas vezes é um diferencial. E qualquer pessoa que consome serviços vai entender como no Brasil somos carentes de serviços de qualidade, tanto que quando temos um bom atendimento achamos muito diferente e queremos divulgar gratuitamente essa solução para outras pessoas.
Foque em oferecer qualidade nos seus serviços de ponta a ponta, desde o atendimento até o feedback pós passeio, e para quem quer empreender com turismo de natureza. Temos alguns documentos que podem servir como guias, alguns até obrigatórios, que são as Normas Técnicas (NBR); elas oferecem um guia de boas práticas, reunindo expertise de operadores de turismo do Brasil todo. Quando se trata de Brasil, temos as NBRs e quando falamos a nível mundial, temos as ISOs. Para ciência, o turismo de aventura e o ecoturismo já tem 42 normas técnicas e contando, pois conforme há necessidade, vão surgindo novas: tem norma para você organizar suas atividades de caminhada, cachoeirismo, turismo fora de estrada 4×4, mergulho recreativo, norma de terminologia entre outras mais, que poderemos nos aprofundar em outro texto aqui neste canal.

Conhecer e aplicar as normas além de um diferencial de qualidade é estar dentro da legalidade, a exemplo da ABNT NBR ISO 21101 – Sistema de Gestão de Segurança, que se tornou obrigatória devido a sua citação no decreto de regulamentação da Lei Geral do Turismo.

Já dizia o influenciador de finanças Bruno Perini “o elogio mais sincero é o dinheiro”, e isso é uma grande verdade. “Vendas” é a alma do negócio, e para efetuar vendas é necessário divulgação e também uma boa reputação, e hoje em dia isso quer dizer, ter presença online e boa reputação na internet.
Usar as ferramentas certas para divulgar o seu negócio de turismo de natureza é o mínimo hoje em dia. Olhe para o Instagram, por exemplo, que tem sido hoje a plataforma mais utilizada pelas pessoas para serem influenciadas a viajar. Uma pesquisa conduzida pelo Schofields, mostrou que mais de 40% das pessoas com menos de 33 anos priorizam o quão “digno de Instagram” é o destino que irão visitar, portanto investir em boas fotos para essa rede social, é uma ótima vitrine para os seus produtos. 

Outra ferramenta necessária é uma loja virtual, ou seja, disponibilizar suas atividades para que o consumidor te encontre e consiga comprar seus produtos sem necessariamente falar com você é primordial. Aliado ao bom uso do instagram, você poderá direcionar todo o seu público que foi “fisgado” por suas fotos na rede social, a irem até sua loja para efetivar a compra, que é o seu objetivo final. Hoje em dia existem plataformas que já oferecem uma loja virtual pronta para as suas atividades, uma delas é a Retrilhar, que funciona também como um motor de reservas e automatiza envio de e-mail com confirmação de compra, entre outras funcionalidades. 

Outra ferramenta indispensável no turismo e que trabalha muito bem o melhor tipo de divulgação que existe até hoje, que é o marketing boca a boca é o Trip Advisor e as avaliações do Google Meu Negócio, essas plataformas são globais e conseguem dar voz aos clientes, tanto para boas avaliações quanto para ruins, claro que ninguém quer uma avaliação negativa, mas se acontecer, é sempre importante responder a avaliação e se dispor a mudar a imagem negativa que foi colocada, isso irá mostrar para outras pessoas que cheguem a ver tal avaliação, que a sua empresa se preocupa em estar sempre melhorando.

O turismo por si só é um atividade colaborativa, não é possível praticar turismo sem a interação de vários serviços para o turista. Faça um inventário de todos os serviços necessários que o turista precisa para ir até o local de destino das suas atividades, crie um inventário não só de atrativos onde você irá realizar as suas atividades, mas também serviços essenciais e complementares como: alimentação, transporte, hospedagem, artesanato, farmácias, hospitais, empresas de táxi, borracharia entre outros. Entenda que apesar de não serem exclusivamente de uso do turismo, todos esses serviços poderão ser necessários durante a estadia dos seus clientes no destino. 

E lembre-se, turismo é economia, fazer girar o dinheiro no destino que você irá trabalhar é um dos motivos que configura a atividade que você opera, como turismo.

Empreender não é uma jornada fácil, e a maioria das pessoas que empreendem com alguma atividade de turismo de natureza, o fazem por amor, ou seja, praticam alguma atividade que gostam bastante e entendem que podem ganhar dinheiro com isso. O problema é que muitos percebem que trabalhar com o que se gosta não é um mar de rosas, e então desistem ou fracassam nos seus negócios. Isso acontece principalmente porque esses profissionais não tomam uma decisão importante, de aprimorar não só suas habilidades técnicas (hard skills), mas também suas habilidades comportamentais (soft skills), realizar uma série de mudanças de mentalidade, como auto responsabilidade, disciplina entre outros, que são necessárias para que esse empreendedor consiga prosseguir nessa jornada. Lembre-se: empreender é um desafio, mas também tem suas recompensas, pois  quem empreende precisa evoluir como pessoa, devido aos vários desafios que são enfrentados frequentemente durante a jornada de se ter um negócio.