Turismologia em Ação -Turismo e Cinema: trabalho de final de curso em Turismo
Sejam muito bem-vindos de volta à mais uma edição do Turismologia em Ação! Hoje nós trazemos o terceiro convidado da nossa série Turismologia em Ação, que traz mensalmente a história de profissionais do Turismo para contarem sua experiência, desafios e compartilham dicas com vocês. A nossa turismóloga de hoje é a Carol Vergal, do blog TurisLife, também apaixonada pelo Turismo. E ela vai trazer o tema Turismo e Cinema.
A convite da Paula vim compartilhar com vocês um dos temas que mais amo e que, inclusive, foi assunto do meu trabalho de conclusão de curso (TCC) na graduação: Turismo e Cinema.
Mas antes eu gostaria de te convidar a fazer uma viagem comigo…
Imagine sair da agitação de uma cidade grande que nunca para, fazer as malas e embarcar rumo ao mundo velho; atravessar o oceano Atlântico e chegar em Verona, na Itália! Que maravilha iniciar a viagem observando a movimentação das águas no rio Ádige, passar pela praça Erbe, conhecer vinhedos e ao caminhar pela cidade encontrar a famosa Casa da Julieta, ler cartas de amor deixadas nas paredes, ver turistas tirando fotos com a estátua da Julieta e ainda poder se sentir parte da história de Shakespeare.
Parece uma perfeita memória de viagem não fossem cenas do filme “Cartas para Julieta”, um dos exemplos de filmes que podem influenciar viagens.
O estímulo
Ao longo de nossos estudos aprendemos que o turismo é uma atividade essencialmente movida por deslocamentos. Porém para que tais deslocamentos ocorram efetivamente é necessário que os turistas sejam estimulados a realizá-los e o cinema pode configurar um importante mecanismo de motivação para a atividade turística.
Quando te convidei a fazer uma viagem, possivelmente você tenha visualizado em sua mente as imagens correspondentes a Verona. E provavelmente você também já tenha se encantado por paisagens vistas em filmes que tenham te despertado a vontade de estar naquele local, mesmo que você nem imagine onde seja. Isso acontece pois as imagens são recursos capazes de transportar o espectador para lugares inimagináveis, estimulando o desejo de estar em contato com as cenas exibidas e, dessa forma, estimular e aumentar o turismo das regiões onde são realizadas as produções cinematográficas. Com essa relação entre turismo e cinema, podemos identificar aqui uma segmentação que pode ser conhecida como movie tourism, screentourism, film-induced tourism ou cineturismo.
O cineturismo pode ser entendido como uma forma de turismo baseado na visitação de locações onde filmes e séries televisivas e cinematográficas foram produzidos. Em 1997 o órgão de Turismo da Escócia descreveu a atividade como “um negócio de atração de visitantes através do retrato de um lugar ou trama de um lugar em filme, vídeo e televisão”.
Porém, encontramos algumas subdivisões no cineturismo, sendo basicamente:
- On Location (na locação) – onde a visitação ocorre no lugar em que serviu para a filmagem;
- Commercial (comercial) – quando há a criação de uma atração em favor do filme, como parques temáticos; (Um exemplo é a criação da ‘Vila dos Hobbits’ na Nova Zelândia e ‘O Mundo Mágico de Harry Potter’ nos Estados Unidos).
- Off Location (fora de locação) – em que ocorrem visitas a estúdios e set de filmagens criados para a filmagem; (Exemplos são os tours criados nos estúdios da Warner, Universal, Paramount, Sony, etc.)
- Mistaken Identities (identidades confundidas) – quando a trama do filme é baseada em uma localidade mas não filmada na mesma;
A partir dessas subdivisões e do entendimento da influência cinematográfica no turismo, temos o exemplo do filme ‘007 Casino Royale’ em que as cenas foram gravadas num cassino supostamente localizado em Montenegro, porém nenhuma cena foi rodada in loco. Fato é que mesmo as gravações terem ocorrido fora de Montenegro, foi registrado um aumento no número de acesso aos sites promocionais do país. Uma vez que as imagens retratadas em cenas conseguem excitar a imaginação dos espectadores, criando um desejo de conhecer e até viver as histórias apresentadas, podemos perceber que o cinema também pode ser um aliado em relação a promoção de novos destinos e até mesmo reforçando o apelo a destinos já consagrados.
Benefícios do Cineturismo
Como indicador da influência direta do cinema nos destinos, constata-se o aumento das conhecidas Film Commissions que são órgãos responsáveis pela organização, promoção e assistência à produção cinematográfica, televisiva e publicitária, podendo representar desde cidades a países inteiros. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, que possuem Film Comissions estruturadas, contabilizam resultados positivos com locações de filmes, programas de televisão e vídeos publicitários. Em 2017, por exemplo, São Paulo autorizou 3.300 locações envolvendo mais de 1.100 produções audiovisuais. Os dados dos últimos dois anos indicam a geração de 50 mil postos de trabalho e gastos da ordem de R$ 1 bilhão declarados pelas produtoras que trabalharam com locações na capital paulista.
Um local ao ser escolhido como locação para a filmagem de uma produção cinematográfica, traz um enorme fluxo de investimentos visto que é preciso movimentar uma grande cadeia de serviços (como exemplo é possível citar hospedagens, transportes e alimentação equipe de produção). O impacto econômico também é estendido ao setor de comércio local. Abaixo pode-se analisar o fluxo esquematizado pelo Ministério do Turismo para ilustrar a movimentação econômica de um destino como locação para filmagens.
Além das vantagens econômicas para uma região, a união do turismo e cinema pode gerar uma boa campanha de marketing especialmente aos destinos que desejam aumentar seu fluxo de turistas. Como exemplo, pode-se considerar o lançamento do filme “Coração Valente”, que teve como locação o Wallace MonumentI na Escócia e registrou o aumento de 300% no número de visitantes.
O maior caso de sucesso da história cinematográfica é destinado a Nova Zelândia com a trilogia “O Senhor dos Anéis”. O sucesso foi tanto que as mais de 150 locações utilizadas foram transformadas em roteiros turísticos, proporcionando aos turistas vivenciar suas próprias experiências na “Terra Média”. Mas os impactos positivos também foram constatados ainda durante as gravações: cerca de 3.000 pessoas foram empregadas apenas para a realização do filme, sendo 90% delas neozelandesas.
O outro lado da moeda
Porém, há também o lado negativo de tanta exibição. É o caso de destinos que se popularizam e localidades tradicionais com pouca ou nenhuma estrutura para receber turistas, o que acaba sobrecarregando os serviços do local e entrando em conflito com os moradores locais e até mesmo com o meio ambiente. Um exemplo prático deste caso é apresentado por Lindsay Shelton (Primeiro diretor de Marketing da New Zeland Film Commission) quando o filme “O Piano” ganhou a Palma de Ouro em Cannes, levando centenas de pessoas visitarem a Nova Zelândia em busca das locações cinematográficas. Muitas das filmagens ocorreram em pequenas comunidades desacostumadas e despreparadas para receber turistas, o que causou um grande impacto e fez com que o governo e empresas passassem a planejar a atividade turística visando a preservação ambiental. Além dos conflitos entre turistas e a estrutura (ou falta dela) nos destinos, tem outro ponto negativo importante a se considerar ao utilizar o cinema como meio de promoção turística: a superexposição. Ainda se tratando da Nova Zelândia, o país enfrenta o desafio de ter se tornado popular demais após o “boom” da trilogia dos filmes O Senhor dos Anéis.
E a partir daí devemos observar que as ações de marketing de destinos (desde as mais simples, até mesmo as grandiosas como locação de filmes) devem estar sempre alinhadas com o planejamento turístico da localidade, levando em conta a comunidade, a capacitação profissional para atendimento aos turistas e também as estruturas básicas, de apoio e turísticas. Caso contrário, podemos nos deparar com outros problemas provenientes do turismo massivo, exemplificando com um exemplo mais recente os hostis “tourists go home”. Mas isso já é papo para outro dia!
Agora nos digam: para onde você já viajou inspirado por um filme? Conte sua experiência!
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Fontes:
BEETON, Sue. Aspects of Tourism: Film-Induced Tourism. Channel View Publications, 2005, 267 p.
NASCIMENTO, Flávio Martins e. Cineturismo. São Paulo. Aleph, 2009. 86 páginas. (Coleção ABC do Turismo).
NETO, Francisco Samuel Pereira; SCHIMIDLIN, Iraci de Oliveira Moraes. Turismo Induzido por Filmes: A Imagem do Nordeste Propagada pelo Cinema Brasileiro no Ponto de Vista do Estudante de Cinema no Ceará. Sport, Leisure And Tourism Review. São Paulo, v. 2, n. 2, p. 01 – 31, jul./dez. 2013.
SILVA, Rejane dos Santos; PEREIRA, Marcílio Machado; MOREIRA, Glauber Lima; PERINOTTO, André Riani Costa.Turismo e cinema: Promoção Turística a partir do filme Sete Anos no Tibete. Rosa Dos Ventos. Caxias do Sul, v. 3, n. 3, p. 68 – 81, jul./dez. 2011.
ESTUDO DE SINERGIA E DESENVOLVIMENTO ENTRE AS INDUSTRIAS DO TURISMO & AUDIOVISUAL BRASILEIRAS
Formação de Carreiras no Turismo, sou Mestre em Gestão de Turismo, fundadora da Escola de Turismólogos e do Turismologia.
Com mais de 13 anos de experiência no Turismo, ofereço capacitação para empresas do Turismo, acelerando resultados e aumentando produtividade, através de palestras e treinamentos.