Poker, ilegal ou turisticamente legal?! Jogos de azar – Turismologia
Quando ouvimos falar de poker qual a primeira coisa que vem à cabeça? Humm! Vou deixar vocês pensarem um pouco… Pera, vocês demoram muito para pensar. Mas acredito que pensamos a mesma coisa. Vou citar uma delas, que talvez, não seja logo o primeiro pensamento, mas que associamos diretamente ao nome quando ouvimos: jogo ilegal. Imaginamos logo um grande cassino em Las Vegas com vários milionários apostando dinheiro, ganhando e perdendo. E lembramos que jogos de azar são proibidos no Brasil.
Confesso que pensávamos de forma similar. Era exatamente isso que vinha na minha mente, quando ouvia falar de poker. Mas por qual razão pensávamos? Por que estávamos quase certo sobre o poker no mundo e principalmente no Brasil? O quase certo está, pois o poker pode ser associado a grandes cassinos em Las Vegas; é um jogo onde pessoas ganham e perdem dinheiro; podendo, assim, o poker tornar pessoas milionárias. Porém, para minha surpresa, o poker não é um jogo de azar. Imagino que você deve, mesmo que internamente, exclamado: não é um jogo de azar!? Não, pelo menos no Brasil, não.
O Ministério dos Esportes (atualmente a secretaria especial do esporte, dentro do ministério da cidadania) reconhece em sua página o Poker como uma prática de competição que exige inteligência, capacidade e habilidades intelectuais e comportamentais para haver sucesso. Classificando a prática como um esporte mental, do modo similar ao jogo de Xadrez. Dessa forma no Brasil o Poker é assegurado pela secretaria especial do esporte como um esporte mental e legitimou a Confederação Brasileira de Texas Hold’em – CBTH como sua entidade oficial. Antes do reconhecimento já existiam diversos estudos e pareceres jurídicos que demostram que a vitória no poker está em 80% ligada as habilidades dos jogadores, o que o descaracteriza-o como jogo de azar.
Mas qual a ligação que o jogo de Poker tem com eventos? E que benefícios este jogo pode trazer ao Turismo de Eventos no Brasil?
Antes mesmo que o Poker fosse reconhecido pela secretaria especial do esporte, a prática já era comum no Brasil e crescente desde sua chegada. No ano de 2016 a CBTH demonstrou em sua pesquisa que naquele período já haviam 7 milhões de praticantes brasileiros de poker. Um número que se comparado aos anos anteriores teve um crescimento de 1 milhão de jogadores por ano. O campeonato Brasileiro de Poker (BSOP) é considerado um dos maiores campeonatos de Poker do hemisfério sul e atraem mais de 1300 jogadores. Em sua edição de 2018 o vencedor do campeonato recebeu mais de R$ 300 mil reais em prêmio.
A dinâmica com que ocorrem os campeonatos e os altos prêmios atraem jogadores de várias regiões do Brasil, tanto no BSOP quanto nos campeonatos regionais como o Nordeste Poker Series que acontece no nordeste brasileiro todos os anos em suas várias etapas. Demanda essa que pode ser bem aproveitada pelo Turismo de eventos e que trazem bastante benefícios para os grandes equipamentos hoteleiros e centro de convenções.
Parece ser algo fácil e até mesmo óbvio: temos um atrativo, uma demanda de pessoas que querem consumir, então temos o lugar certo e geramos lucro com isso. Mas não é exatamente assim que funciona. Ainda pela falta de conhecimento, e por preconceito de alguns players do turismo; aqueles que procuram destinos e espaços para promover seus campeonatos de poker sofrem dificuldades de aceitação ou de promoção da atividade. Devido ao recente reconhecimento e falta de regulamentação e esclarecimento em alguns casos da atividade, os equipamentos hoteleiros e centro de convenções são resistentes em captar essa demanda aos seus espaços ou destinos.
Outra dificuldade que é encontrada dentro da atividade é o dinamismo como ocorrem os jogos que chegam a durar horas e demandam muito dos seus fornecedores. Exigem flexibilidade e parceria de quem os recebem. No mesmo modo que trazem grande benefícios financeiros para que os recebem, exigem qualidade e agilidade dos equipamentos que contratam. E em alguns casos, exigem praticamente exclusividade.
Entender a atividade e se adaptar para receber os campeonatos surge como uma grande oportunidade para ao mercado de eventos que tem diante dos seus olhos, um mercado que gera milhares de reais em receitas; e ainda me arrisco a afirmar que milhões. A atividade demanda não só os espaços, mas junto com isso demanda: hospedagem, passagens, alimentação e itens de lazer. Enquanto os participantes jogam, suas famílias se divertem. Os jogadores buscam dinheiro, competição, mas antes de tudo buscam lazer. E existe forma melhor de vencer e ser premiado do que se divertindo? Não, não há. É o que tem feito o mercado do poker crescer no Brasil. Temos também que afirmar que o público consumidor dessa modalidade de esporte é um público consumidor que busca boa qualidade de serviço e equipamentos.
Somente para trazer a realidade em números em um evento de pequeno porte de 5 dias que participei, o evento demandou em torno de 45 apartamentos e uma demanda de alimentos e bebidas de aproximadamente R$ 30 mil em receita. O detalhe é que a demanda foi reduzida devido a capacidade do espaço em receber mais jogadores. O que nos leva a compreender que a procura pela atividade é bem mais abrangente do que imaginamos e temos uma grande oportunidade diante dos nossos olhos.
Atualmente exerce cargo de liderança na hotelaria no setor de Eventos, após ter sido trainee do grupo BHG (Brazil Hospitality Group). MBA em Negócios pela Universidade Potiguar, Bacharel do Turismo pela Universidade Potiguar, Rio Grande do Norte.