O exercício do agenciamento relacionado ao conhecimento acadêmico obtido – entrevista
O exercício do agenciamento relacionado ao conhecimento acadêmico obtido… Complexo o tema, não? Bom, quando estudamos turismo, percebemos o quão grande é esse fenômeno. O curso de turismo prepara o futuro turismólogo para continuar na academia ou mesmo, se esse optar por, a exercer determinada função de uma das segmentações da área. Ele pode trabalhar com planejamento turístico, com a produção de eventos, pode trabalhar dentro do setor de hotelaria, assim como com o agenciamento emissivo ou receptivo, entre outras opções que o turismólogo pode usufruir. É justamente sobre o agenciamento que iremos falar hoje: o exercício da função relacionado ao conhecimento obtido na graduação.
A Dayane Tondolo, de 25 anos, brasileira, mas que viveu quase toda a sua vida na Argentina (o que poderá ser notado pelo estilo de escrita da mesma), está prestes a obter o título de Licenciada em Turismo, pela Universidad Nacional de Misiones, universidade essa que foi fundada em 1973. O curso de Licenciatura em Turismo faz parte da Facultad de Humanidades y Ciencias Sociales, que fica localizada na cidade de Posadas, na Argentina. Atualmente, ela trabalha em uma agência de viagens no Brasil e fiquei curiosa sobre como ela relaciona o conhecimento acadêmico obtido até então com a atividade de agente de viagens.
Com esse intuito, então, a Dayane e eu conversamos muito e acabei formulando algumas questões. As respostas demonstram seu ponto de vista e eu o compartilho com vocês. Lembro que todas as respostas estão tal qual a respondente enviou.
Entrevista – O exercício do agenciamento relacionado ao conhecimento acadêmico obtido
1 – Vamos começar com uma pequena introdução. Portanto, de maneira geral, como é o curso (carreira = carrera) de Licenciatura em Turismo na Universidad Nacional de Misiones?
A carreira de Licenciatura em Turismo é uma carreira apaixonante. Quando comecei a cursar acabei descobrindo que o Turismo é uma atividade que implica tantos aspectos e que eles são tão diversos! Durante meu percurso na faculdade aprendi sobre geografia, história, arte, economia, marketing, sociologia, psicologia, legislatura e tantas coisas mais.
À diferença da maioria das carreiras de Turismo da Argentina, que se encontram dentro de faculdades com orientação econômica, a Licenciatura de Turismo da Universidad Nacional de Misiones pertence à Facultad de Humanidades y Ciencias Sociales. Isto implica que a carreira está mais focada nos estudos da sua função dentro da sociedade, suas causas e efeitos. Estudamos o Turismo como um fenômeno social holístico. Ao mesmo tempo, por ser uma Licenciatura, a carga curricular está orientada à investigação e pesquisa do fenômeno.
A carreira tem uma duração de cinco anos e meio de cursado, mais dois anos pra entregar a Tese Final, uma investigação complexa de tema livre.
2 – Dentro da grade curricular do seu curso, quais disciplinas trabalham conteúdos ou mesmo utilizam ferramentas que são aproveitadas pelo agenciamento de viagens?
Durante o primeiro ano, além das disciplinas introdutórias à carreira, tive uma disciplina chamada Serviços Turísticos. Tive essa disciplina durante três anos. No primeiro, estudamos tudo referente a transporte turístico, seja ele terrestre, ferroviário, cruzeiros e um principal foco no aéreo. Estudamos códigos IATA como se fosse nossa língua materna hahaha. No segundo ano, tivemos Serviços Turísticos referente às Agências de Viagens: aprendemos sobre o funcionamento básico das agências, criação de pacotes turísticos, documentação interna das agências, administração e gerenciamento. No terceiro ano, a disciplina Serviços Turísticos foi orientado à hotelaria.
Por outro lado, também estudamos Legislação do Turismo, tanto do transporte como das agências e da hotelaria e são muito diferentes às leis do Brasil. Por exemplo, na Argentina a lei estabelece que a abertura de uma agência de viagens deve ser feita obrigatoriamente por um Licenciado em Turismo. Desde 1983, não podem abrir agências pessoas fora do ramo. As regulações também são mais estritas, beneficiando aos turistas e também à agência, porque já está estabelecido o que pode e não pode fazer.
Outra disciplina que estudamos muito durante a carreira foi Produtos Turísticos. Ao igual que Serviços, também estudamos por três anos. No primeiro, Produtos Turísticos Mundiais, no segundo, Produtos Turísticos Nacionais (Argentina) e no terceiro, Produtos Turísticos do Mercosul. Isso nos ajuda a saber o que vende no mercado turístico, os atrativos de cada lugar e como é explorado no Turismo atualmente.
A outra disciplina que quero destacar neste texto é Marketing. Durante quatro dos cinco anos de faculdade realizamos estudos, trabalhos, investigações e aplicações do marketing no Turismo. Tínhamos um Laboratório de Marketing, onde inovar e criar produtos turísticos viáveis eram o objetivo. Muitos dos projetos foram depois colocados no mercado turístico real.
Leia também: O Turismo no desenvolvimento de uma sociedade mais justa.
3 – Durante o tempo em que cursava em Misiones, você chegou a realizar algum estágio ou mesmo a trabalhar em alguma agência?
Este ponto é bem interessante, pois é um assunto que é amplamente discutido na faculdade: a falta de convênios da carreira com órgãos públicos e privados para efetuar estágios e práticas pré-profissionais. Enquanto eu cursava, somente no terceiro ano tínhamos a obrigatoriedade de fazer um estágio sobre Hotelaria. A faculdade conseguia para os estudantes um espaço em algum hotel para fazer um mês de estágio. Em agências ou órgãos públicos tínhamos que fazer estágio por conta própria. Eu mesma tive a oportunidade de fazer um estágio por três meses em uma agência, onde aprendi a utilizar Amadeus, fechar vendas de aéreos e bilhetes de ônibus.
Outras faculdades da Argentina, mais orientadas à parte econômica do Turismo, têm o que se chamam escolas: Hotel-Escola e Agência-escola. Nesse caso, os alunos têm oportunidade de trabalhar no mundo real supervisados pelos professores durante um ano em cada área.
4 – Agora que você está trabalhando em uma agência de viagens no Brasil, você pôde colocar em prática quais conhecimentos obtidos durante a sua gradação? (A ideia aqui era entender se está o agenciamento relacionado ao conhecimento acadêmico)
E novamente os códigos IATA aparecem na minha mente hahaha. Acho que é uma das coisas que mais utilizo no dia a dia.
Os passos para montar pacotes, os atrativos de cada lugar quando devo montar um pacote novo, as necessidades dos turistas que devem ser tomados em conta, a venda de passagens.
Repito, novamente, que são muito diferentes os sistemas de vendas da Argentina dos daqui, mas é tão bom sempre aprender coisas novas a cada dia!
5 – Você identificou aspectos que poderiam ser mais bem trabalhados em seu curso para um melhor exercício do agenciamento? Se sim, especificar.
Muitos! Falta muita prática no nosso cursado. A gente aprende muita teoria, mas chegar ao campo laboral é totalmente diferente. A prática faz o mestre. Para iniciar, faz uma falta enorme a aprendizagem do uso de Amadeus, Sabre ou Galileo na faculdade. São sistemas operativos internacionais que obrigatoriamente deveríamos sair da faculdade dominando, mas por serem muito caros, a faculdade não adquire o sistema para uso dos alunos. Quando saímos para procurar emprego em agências a primeira pergunta que fazem é se sabemos utilizar Amadeus.
Faz também uma falta enorme que nos ensinem a tratar com o cliente. O quão bom é o atendimento varia de pessoa para pessoa, tem quem sabe lidar bem com o cliente e quem é até mesmo grotesco hahaha. Saber resolver os problemas que o cliente possa ter é algo que pode ser aprendido. Cada situação, cada problema pode ser diferente, mas poderíamos aprender a acalmar o cliente e a resolver os imprevistos o mais eficientemente possível.
Gostaria de agradecer a Dayane pela oportunidade de agora poder olhar o nosso dia a dia de agente de viagens sob sua perspectiva (prática e teórica) e perceber como o ensino da nossa área pode ser trabalhado de diferentes maneiras. Continuo acreditando na importância de que estejam o exercício do agenciamento relacionado ao conhecimento acadêmico, afinal, quanto mais pudermos aproximar o mercado e da academia, mais estaremos atuando de acordo com as necessidades da sociedade.
Sigamos, portanto, discutindo, descobrindo, aprendendo e compartilhando conhecimento e experiências, sempre.
Turismóloga, o que me move é ajudar as pessoas a realizarem seus sonhos: atuo na área de agenciamento e consultoria há mais de 8 anos. Atualmente, lidero e coordeno a filial da Egali Intercâmbio em Maringá/PR, além de ajudar muitos intercambistas a tirarem a ideia do papel! Para mim, antes de qualquer outra coisa, Turismo é oportunidade