Turismofobia
Após a Segunda Guerra Mundial e em decorrência das transformações econômicas, sociais e do avanço da tecnologia, a atividade turística tomou novos caminhos: com o desenvolvimento cada vez maior do setor, empresas prestadoras de serviços turísticos surgiram com força e grupos de turistas começaram a organizar clubes e associações, conforme seus interesses. O turismo é um fenômeno que influencia fortemente na economia, nas culturas, na sociedade… influencia o cotidiano das pessoas, gera renda, muda sua maneira de ver o mundo. O turismo tem um poder incrivelmente transformador, principalmente quando falamos de turismo de massas.
Hoje em dia, grande parte dos habitantes dos países desenvolvidos, e um número crescente nos países em desenvolvimento, estão tendo a possibilidade de realizar uma ou até várias viagens ao ano. Os viajantes passaram a ser vistos, pelas mais diversas razões, em todo o mundo: o turismo massivo se consolidou. Viagens de menor custo, como resultado de parcerias com companhias aéreas e de pacotes de viagens organizados por operadoras e agências de viagens, por exemplo, possibilitaram a visitação de novos destinos, de maneira cada vez mais frequente.
Apesar de todos os benefícios econômicos que o turismo pode trazer para as comunidades, quando o turismo de massas ocorre sem planejamento e infraestrutura, pode acarretar em consequências negativas para o meio ambiente e para os residentes. Alguns exemplos são: acúmulo de lixo em lugares abertos, o preço dos produtos básicos ficam exorbitantes, operadoras estrangeiras se apropriam de boa parte do dinheiro que os turistas investem, estabelecimentos essenciais à população, como supermercados, passaram a ser substituídos por um número cada vez maior de lojas de souvenirs e restaurantes de fast foods.
É um equilíbrio difícil de existir entre a vida cotidiana dos residentes e uma atividade turística intensa que gera muitos incômodos através de pessoas que viajam, acima de tudo, para se divertir sem respeito às comunidades locais. A “turismofobia” vem tornando-se cada vez mais intensa em cidades como Roma, Lisboa, Veneza, Dubrovnik, Ibiza, Girona, Mallorca, Barcelona, entre tantas outras cidades, onde o número de visitantes tem crescido muito.
O número de turistas estrangeiros que visitaram a Espanha em 2017 cresceu pelo quinto ano consecutivo, fazendo o país se tornar o segundo mais visitado no mundo com 82 milhões de visitantes em 2017, perdendo somente para a França, que fechou o ano com 89 milhões. Devido a esse grande fluxo de turistas, Barcelona e algumas outras cidades, vêm sofrendo protestos por parte de seus residentes e ataques de grupos como o Arran Països Catalans, formados por jovens de extrema esquerda que também defendem a separação da Catalunha. Cerca de vinte membros do grupo no ano passado, por exemplo, invadiu barcos e iates que estavam ancorados em Palma de Mallorca lançando confetes e rojões para protestar contra o turismo em massa.
Os manifestantes exibiram cartazes com os dizeres “O turismo mata Mallorca” e “Aqui se está travando a luta de classes”. Em Barcelona, o grupo atacou um ônibus, furando os pneus e pichando mensagens contra o turismo de massas. Alguns já usaram camisetas com caveiras e slogans do tipo: “não queremos os turistas nos nossos prédios. Isto não é um resort“. Em uma reportagem do G1, Anna-Laure, francesa de 41 anos, comentou: “O nosso apartamento do Airbnb em Barcelona tinha um terraço no qual as janelas dos andares superiores davam para um terraço. À noite, jantávamos lá. Nós não fazíamos particularmente barulho, mas de manhã o terraço estava cheio de ovos podres esmagados, aparentemente o hábito de alguns moradores do prédio”. O “boom” dos alugueis sazonais do tipo Airbnb.com levou a um aumento do preço dos imóveis, principalmente em bairros mais populares: esse é mais um dos motivos de tamanha revolta dos habitantes. O licenciamento continua, mas tornou-se cada vez menos importante e o número de estabelecimentos irregulares que oferecem hospedagem aumenta cada vez mais.
Em Veneza, são 60 mil turistas, em média, dia após dia, em uma cidade que tem hoje 55 mil habitantes. São 28 milhões de turistas por ano: meio ambiente e qualidade de vida estão definitivamente prejudicados. O comportamento de alguns turistas também não ajuda a aliviar a tensão em cidades que enfrentam esse tipo de problema. No ano passado, por exemplo, Veneza foi alvo de manchetes em todo o mundo, noticiando falta de educação e de respeito ao seu patrimônio histórico e artístico, por parte de turistas estrangeiros, em sua maioria. Foram registrados casos como turistas que mergulhavam nos canais, tiravam suas roupas e se lavavam em fontes medievais, saltavam de pontes históricas, urinavam nas ruas, chegavam até fazer sexo no meio da cidade. Os cidadãos, indignados, decidiram responder indo às ruas para protestar.
Esse pequeno resumo de causas e consequências teve como objetivo ambientar-nos, minimamente, sobre a problemática que algumas cidades vêm enfrentando. Todos os segmentos do turismo, direta ou indiretamente, são afetados por essa problemática A comunidade, os turistas, as operadoras e a cultura como um todo do local de destino sofrem com isso. Para amenizar os efeitos e danos causados pelo turismo massivo, a comunidade, o poder público, a iniciativa privada e principalmente o turista, precisam agir juntos.
No próximo texto, vou tratar sobre iniciativas que algumas cidades já estão tomando para prevenir ou amenizar a nocividade que o turismo de massas pode causar.
Referências (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
RUSCHMANN, D. V. de M. Turismo e Planejamento Sustentável: a proteção do meio ambiente. 16. ed. Campinas: Papirus, 2012.
Turismóloga, o que me move é ajudar as pessoas a realizarem seus sonhos: atuo na área de agenciamento e consultoria há mais de 8 anos. Atualmente, lidero e coordeno a filial da Egali Intercâmbio em Maringá/PR, além de ajudar muitos intercambistas a tirarem a ideia do papel! Para mim, antes de qualquer outra coisa, Turismo é oportunidade